AS PALAVRAS ORDENAM A VIDA: O PODER DE CURA DA ESCRITA EXPRESSIVA

 A utilização do ato da escrita como ferramenta terapêutica.

Por Claudio Cesário - Rio de janeiro, 09 de dezembro de 2023.


Na década de 80, o renomado professor de Psicologia, James Pennebaker, realizou um estudo inovador que lançou luz sobre o impacto das palavras em nossa saúde física e mental. Seu experimento envolveu grupos de pessoas que foram convidadas a escrever, por quatro dias consecutivos, sobre o maior trauma de suas vidas. Os resultados revelaram um fenômeno notável: aqueles que se entregaram à escrita expressiva experimentaram benefícios significativos para sua saúde.

A premissa fundamental do estudo de Pennebaker é que expressar em palavras os sentimentos relacionados a experiências traumáticas pode ter efeitos terapêuticos profundos. Os participantes foram incentivados a mergulhar profundamente em suas emoções, explorando os detalhes e as complexidades de seus traumas. Este exercício de autoexpressão desencadeou uma série de reações positivas que ecoaram além do papel.

Uma das descobertas mais marcantes foi a relação entre a escrita expressiva e a frequência das visitas médicas. Os participantes que compartilharam suas experiências traumáticas perceberam uma diminuição significativa nas idas ao médico nos meses subsequentes. Esse achado sugere uma conexão intrigante entre o ato de escrever sobre eventos dolorosos e a melhoria da saúde física.

Além disso, observou-se que as feridas físicas desses participantes cicatrizavam mais rapidamente em comparação com aqueles que se dedicaram a escrever sobre assuntos neutros. A explicação por trás desse fenômeno pode residir na interconexão complexa entre a mente e o corpo. A escrita expressiva pode agir como um catalisador para processos psicofisiológicos que promovem a cicatrização e o bem-estar geral.

O que torna as palavras tão poderosas nesse contexto? A resposta pode estar na liberação de emoções reprimidas e na criação de uma narrativa coerente em torno das experiências traumáticas. A escrita proporciona um espaço seguro para explorar e confrontar esses sentimentos, transformando-os de elementos desconectados em uma história compreensível e, portanto, mais gerenciável.

Os benefícios terapêuticos da escrita expressiva vão além do alívio emocional imediato. A prática contínua pode contribuir para o fortalecimento da resiliência psicológica, oferecendo aos indivíduos uma ferramenta poderosa para enfrentar desafios futuros. O ato de expressar as próprias experiências por meio das palavras pode promover uma sensação de autorreflexão e autocompreensão, essenciais para o crescimento pessoal.

À medida que a pesquisa de Pennebaker inspirou e influenciou estudos subsequentes, a aplicação prática da escrita expressiva expandiu-se para diversos campos da psicologia e da medicina. Terapeutas, psicólogos e profissionais de saúde reconhecem cada vez mais o valor terapêutico da palavra escrita, incorporando-a em abordagens de tratamento e intervenções.

Em última análise, o estudo de James Pennebaker destaca o poder transformador das palavras em nossas vidas. As narrativas que construímos sobre nossas experiências não são apenas registros passivos, mas ferramentas dinâmicas que moldam nossa compreensão do mundo e influenciam nossa saúde. A escrita expressiva emerge como um meio valioso para ordenar as complexidades da vida, promovendo cura e crescimento em um processo tão simples quanto poderoso.

https://en.wikipedia.org/wiki/James_W._Pennebaker

___________________________________________________________________________

Claudio Cesário é jornalista, graduado em Letras - Português/Inglês - e suas respectivas Literaturas. Professor de português, revisor e lexicógrafo, desde 2012 trabalha na gestão e produção de conteúdos linguísticos. Licenciado pela Universidade Castelo Branco, atua nas áreas do ensino fundamental II, ensino médio e cursos preparatórios, lecionando português a crianças, jovens e adultos. Colabora ainda na revisão ortográfica e científica de livros didáticos, artigos, monografias e trabalhos de conclusão de curso (TCC).


Postar um comentário

0 Comentários